Flávio Viegas Amoreira
A linguagem é quando rompemos sodomizados
por um Deus imagético de estrelas em sustenido
só Deus é capaz de gozar ejaculando
adjetivos reticentes
essa paixão epidérmica pela palavra
me puxa feito quem se deleita
fornicando entre as ondas dum mar bravio de violáceas escamas
resisto mesmo naufragando de mim
se somos rosto fugaz do Devir
que seja o Verbo rebento
um rosto que resta diluído pelo acaso passageiro das esferas
na água oca dos espelhos opacos
Deus penetra-me sem estrofes
réstia / fresta
trepadeira da alma em tronco
fungos entrecortados de veios de açucena
permeiam o pulmão do mundo exalando arbóreo oxigênio por alvéolos incandesdentes
que estiletam o ar de setas trespassando o acaso...
duas forças competem entre minhas costelas dilaceradas de significados exangues: longe e nunca...
toda poesia de minhas entranhas nisso se contêm quedas da violação de meus sentidos eviscerados: longe e nunca...
ai emasculado do divino: escrevo
orgasmo cósmico entre a rosa túmida
entre minhas ancas tortas como a órbita de Urano
criar é um ato anti-natural
viver é apenas passar por apuros entre a dor lúcida entre o vazio e o nada
existir é um travo semântico de nossos membros e células consumindo-se
no esforço insano de desatar o absurdo
poesia é então o elaborado sêmen infértil dum vício solitário perpetuado por signos / gestos ou insondáveis rebentos de galáxias distantes dum agora contínuo mesmo sem mais o meu e teu gosto...
é preciso mastigar o que escreve nas coisa por nós
o pensamento criativo liberta: o ex-pensamento é o encontro da palavra
com o mundo: Poesia
não esquece a bagagem, mesmo que o destino seja o nunca
ele nasce com o invólucro sedoso e nos despacha com pano sem nenhum apuro
esse amontoado, esse chamado, destino...
a vida é um nada imperdivel nascer ao lado do mar, desde os mais antigos ancestrais, foi a
sina de ser vocacionado para a sondagem... a inquietação alternando profundidade: todo
disparate me soa verdade do Oceano em mim.
Eu "causo-me" espécie as vezes.
Não saber quem sou foi meu primeiro estalo para sentir-me escritor, para fazer-me poeta. A vida para mim? é fazer tudo por acreditar / tudo está por acreditar
Esse esforço insano por crer / ainda assim nessa lida nunca me senti tão bem convivendo mais comigo... estava disperso até de minha sombra, essa sorrateira que também deve ser trazida e tragada ao conversar com minha luz.
Três horas... a madrugada é uma senhora deflorada parindo mil auroras...
Imagino alguém pensando num hotel em Adis-Abeba ou Tókio que eu também exista... sempre há alguém para vibrar nosso tempo: esse amor longínquo diz-me com intuição voltada ao hemisfério ocidental do meu corpo e toda vontade de meu dorso, que terei um inverno afetuoso aquecido pela face doutro rosto
onde a entrega só é possível depois de feito nosso acerto de contas... eu chamo o ponto P dentro de mim: meu cerne por aflorar. Quanto mais desaprendo é o recomeço do sentido. amas? é o enigma / respondes? anúncio do desacerto
o desejo vem na emergência de um esvaziamento extremo. Tenta o oco de ti:
encontrarás um fóssil recheado de resquícios do que não foste. O homem sem alma foi descoberto nas ruas... um poeta o identifica pela senha dos olhos de quem vê longe... de repente era uma multidão de desalmados... enjaularam o poeta que sopra cantos como Orfeu: versos sem preocupação mais de se libertar. Você é a medida de quem ama / do que... busco o pássaro da noite / afasto-me dos espectros que ofuscam o paraíso terreno. A elaboração do luto nasce da fala / o que se perdeu recomeça no reinvento das cinzas.
A linguagem é quando rompemos sodomizados
por um Deus imagético de estrelas em sustenido
só Deus é capaz de gozar ejaculando
adjetivos reticentes
essa paixão epidérmica pela palavra
me puxa feito quem se deleita
fornicando entre as ondas dum mar bravio de violáceas escamas
resisto mesmo naufragando de mim
se somos rosto fugaz do Devir
que seja o Verbo rebento
um rosto que resta diluído pelo acaso passageiro das esferas
na água oca dos espelhos opacos
Deus penetra-me sem estrofes
réstia / fresta
trepadeira da alma em tronco
fungos entrecortados de veios de açucena
permeiam o pulmão do mundo exalando arbóreo oxigênio por alvéolos incandesdentes
que estiletam o ar de setas trespassando o acaso...
duas forças competem entre minhas costelas dilaceradas de significados exangues: longe e nunca...
toda poesia de minhas entranhas nisso se contêm quedas da violação de meus sentidos eviscerados: longe e nunca...
ai emasculado do divino: escrevo
orgasmo cósmico entre a rosa túmida
entre minhas ancas tortas como a órbita de Urano
criar é um ato anti-natural
viver é apenas passar por apuros entre a dor lúcida entre o vazio e o nada
existir é um travo semântico de nossos membros e células consumindo-se
no esforço insano de desatar o absurdo
poesia é então o elaborado sêmen infértil dum vício solitário perpetuado por signos / gestos ou insondáveis rebentos de galáxias distantes dum agora contínuo mesmo sem mais o meu e teu gosto...
é preciso mastigar o que escreve nas coisa por nós
o pensamento criativo liberta: o ex-pensamento é o encontro da palavra
com o mundo: Poesia
não esquece a bagagem, mesmo que o destino seja o nunca
ele nasce com o invólucro sedoso e nos despacha com pano sem nenhum apuro
esse amontoado, esse chamado, destino...
a vida é um nada imperdivel nascer ao lado do mar, desde os mais antigos ancestrais, foi a
sina de ser vocacionado para a sondagem... a inquietação alternando profundidade: todo
disparate me soa verdade do Oceano em mim.
Eu "causo-me" espécie as vezes.
Não saber quem sou foi meu primeiro estalo para sentir-me escritor, para fazer-me poeta. A vida para mim? é fazer tudo por acreditar / tudo está por acreditar
Esse esforço insano por crer / ainda assim nessa lida nunca me senti tão bem convivendo mais comigo... estava disperso até de minha sombra, essa sorrateira que também deve ser trazida e tragada ao conversar com minha luz.
Três horas... a madrugada é uma senhora deflorada parindo mil auroras...
Imagino alguém pensando num hotel em Adis-Abeba ou Tókio que eu também exista... sempre há alguém para vibrar nosso tempo: esse amor longínquo diz-me com intuição voltada ao hemisfério ocidental do meu corpo e toda vontade de meu dorso, que terei um inverno afetuoso aquecido pela face doutro rosto
onde a entrega só é possível depois de feito nosso acerto de contas... eu chamo o ponto P dentro de mim: meu cerne por aflorar. Quanto mais desaprendo é o recomeço do sentido. amas? é o enigma / respondes? anúncio do desacerto
o desejo vem na emergência de um esvaziamento extremo. Tenta o oco de ti:
encontrarás um fóssil recheado de resquícios do que não foste. O homem sem alma foi descoberto nas ruas... um poeta o identifica pela senha dos olhos de quem vê longe... de repente era uma multidão de desalmados... enjaularam o poeta que sopra cantos como Orfeu: versos sem preocupação mais de se libertar. Você é a medida de quem ama / do que... busco o pássaro da noite / afasto-me dos espectros que ofuscam o paraíso terreno. A elaboração do luto nasce da fala / o que se perdeu recomeça no reinvento das cinzas.
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