Ademir Demarchi
Rubem Fonseca notabilizou-se com livros de contos antológicos nos anos 60 e 70, como Os prisioneiros (1963), A coleira do cão (1965), Lúcia McCartney (1967), Feliz Ano Novo (1975) e O cobrador (1979), nos quais a violência numa grande cidade como o Rio se expunha de forma contundente. O conto Feliz Ano Novo é o mais exemplar disso, ao discorrer sobre a invasão de uma mansão de ricos por jovens bandidos alucinados, em plena festa de ano novo. A inventividade narrativa, o experimentalismo e a imaginação eram marcantes e admiráveis, tanto que seus livros chegaram a ser censurados pela ditadura.
No entanto os romances que escreveu, em geral no gênero policial, não alcançaram o mesmo efeito. E, pior, depois dos livros citados até mesmo os novos livros de contos desandaram numa repetição monótona de narração na primeira pessoa, de assuntos, de personagens e de obsessões que perderam o encanto, pelo menos para aquele leitor mais exigente dos primeiros livros. Apesar disso, teve sucesso de vendas, o que sugere que o marketing de uma grande editora, o apelo e a repetição, se o afastaram do primor daqueles primeiros livros, levaram-no ao grande público que não liga para essas coisas, quanto mais fescenino fica, quanto mais secreções e excreções secreta, banalizando-se.
No ano passado, depois de anos na Companhia das Letras, Fonseca saiu de lá indo com suas obras para a Ediouro, segundo ele porque a editora ofereceu a ele um milhão de luvas, mais vantagens de mídia. Já, segundo reportagem da Folha de São Paulo, a mudança se deu devido a um desentendimento provocado por sua tentativa de impingir um romancezinho de uma protegida, Paula Parisot.
Esse romance se salva apenas pelo título curioso, Gonzos e Parafusos, pois o conteúdo é sofrível, marcado por um modo narrativo chinfrim e amador que em nada lembra a pecha de grande escritora que Fonseca tenta grudar nela.
A nós leitores parece que ele se tornou um velho fescenino em seus 83 anos, correndo atrás de uma moça que é uma fantasia de escritora em sua cabeça e é tão boa que precisou lançar seu livro ficando uma semana dentro de uma gaiola de vidro na livraria para chamar a atenção...
Fonseca, nesse papel de velho fescenino, correndo atrás dela e se babando na frente do marido, aparecendo nos jornais e se deixando fotografar como nunca antes, uma vez que sempre foi avesso a isso, repete seus enredos. De modo mais explícito, repete o personagem do romance Diário de um Fescenino, justamente no qual inventou uma síndrome de Zuckerman, com a qual ele ironiza a confusão comum que os leitores fazem achando que o escritor é o personagem...
Com a saída da Cia. das Letras, essa editora desovou os estoques de Fonseca no supermercado a menos de 10 reais cada, o que é o preço ideal para esses pulp fictions envernizados de retórica, erudição e monotonia, com capas duras ou lustrosas...
Rubem Fonseca notabilizou-se com livros de contos antológicos nos anos 60 e 70, como Os prisioneiros (1963), A coleira do cão (1965), Lúcia McCartney (1967), Feliz Ano Novo (1975) e O cobrador (1979), nos quais a violência numa grande cidade como o Rio se expunha de forma contundente. O conto Feliz Ano Novo é o mais exemplar disso, ao discorrer sobre a invasão de uma mansão de ricos por jovens bandidos alucinados, em plena festa de ano novo. A inventividade narrativa, o experimentalismo e a imaginação eram marcantes e admiráveis, tanto que seus livros chegaram a ser censurados pela ditadura.
O velho fescenino: personagem ou realidade?
No entanto os romances que escreveu, em geral no gênero policial, não alcançaram o mesmo efeito. E, pior, depois dos livros citados até mesmo os novos livros de contos desandaram numa repetição monótona de narração na primeira pessoa, de assuntos, de personagens e de obsessões que perderam o encanto, pelo menos para aquele leitor mais exigente dos primeiros livros. Apesar disso, teve sucesso de vendas, o que sugere que o marketing de uma grande editora, o apelo e a repetição, se o afastaram do primor daqueles primeiros livros, levaram-no ao grande público que não liga para essas coisas, quanto mais fescenino fica, quanto mais secreções e excreções secreta, banalizando-se.
No ano passado, depois de anos na Companhia das Letras, Fonseca saiu de lá indo com suas obras para a Ediouro, segundo ele porque a editora ofereceu a ele um milhão de luvas, mais vantagens de mídia. Já, segundo reportagem da Folha de São Paulo, a mudança se deu devido a um desentendimento provocado por sua tentativa de impingir um romancezinho de uma protegida, Paula Parisot.
Esse romance se salva apenas pelo título curioso, Gonzos e Parafusos, pois o conteúdo é sofrível, marcado por um modo narrativo chinfrim e amador que em nada lembra a pecha de grande escritora que Fonseca tenta grudar nela.
A nós leitores parece que ele se tornou um velho fescenino em seus 83 anos, correndo atrás de uma moça que é uma fantasia de escritora em sua cabeça e é tão boa que precisou lançar seu livro ficando uma semana dentro de uma gaiola de vidro na livraria para chamar a atenção...
Fonseca, nesse papel de velho fescenino, correndo atrás dela e se babando na frente do marido, aparecendo nos jornais e se deixando fotografar como nunca antes, uma vez que sempre foi avesso a isso, repete seus enredos. De modo mais explícito, repete o personagem do romance Diário de um Fescenino, justamente no qual inventou uma síndrome de Zuckerman, com a qual ele ironiza a confusão comum que os leitores fazem achando que o escritor é o personagem...
Com a saída da Cia. das Letras, essa editora desovou os estoques de Fonseca no supermercado a menos de 10 reais cada, o que é o preço ideal para esses pulp fictions envernizados de retórica, erudição e monotonia, com capas duras ou lustrosas...
Cruel, divertido e verdadeiro. Esse episódio foi realmente lamentável!
ResponderExcluirO papel do escritor também foi afetado pelo espetáculo transitório, sustentado por marketing e mídia. Mas virar um BBB me soa demasiado exagerado. Excelente texto.
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